Por incrível que pareça, o final da expectativa de não saber
o que fariam com ele estava trazendo mais alívio que angústia. Cercado pelo
grupo de alunos em volta da mesa onde trabalha, na sala de aula onde o ensino
era praticamente uma religião praticada por ele, o professor agora se debruça,
coagido pelo ódio que emana de palavras de ordem proferidas pelos adolescentes,
as calças arriadas por um deles e, em meio aos gritos, que logo viram uma
torcida histérica, acompanhada de risos, sente as mãos do rapaz na cintura
enquanto seu membro desliza, sem piedade, para dentro do ânus do pedagogo, o
que o leva a soltar um grito de dor e os jovens ao delírio. Por sua vez, o
ativo focava no estupro de seu mestre, sentindo a ereção ganhar cada vez mais
força enquanto o violentava, em face do prazer físico, causado pela pressão que
o reto apertado fazia contra seu membro, que jamais havia experimentado o sexo
anal. Entretanto, não é o sexo em si que lhe causa excitação, mas, sim, a
ciência de estar desgraçando a vida daquele que, no final das contas, foi
condicionado a acreditar que o oprimia. O sentimento de posse, de poder, de
fazer um inferno da vida de quem odeia e submetê-lo àquilo que, para qualquer
homem, é considerado a humilhação mais grave, ser transformado em mulher pelas mãos
de alguém que não só seria transformado em algo mais pelo conhecimento
transmitido como, ainda, contra quem não poderia esboçar reação alguma, fosse
pelo número de alunos à sua volta, fosse porque a lei estaria do lado de todos
na sala, independentemente do que acontecesse ali de mais ou menos grave,
havendo uma punição mínima para os responsáveis, se houvesse alguma. Enquanto
sente o rapaz entrando e saindo de dentro de si, conforme lhe convém, ouve os
insultos e humilhações dos alunos e se lembra de como tudo começou, a princípio
deixando a entender que talvez se tratasse de uma discussão mais acalorada, no
máximo uma briga, sem jamais imaginar que tudo chegaria àquele ponto. Ao redor,
alguns alunos acendiam baseados, faziam fileiras de cocaína e outros,
estimulados pela cena com o professor, formavam fila para serem os próximos e
entrar no lugar do amigo na curra do corpo docente, literalmente falando,
enquanto outros se despiam e iniciavam seu próprio intercurso,
independentemente da orientação sexual.
A cena não demora a chegar ao conhecimento de outros alunos,
em outras salas, e logo a escola está tomada. Professores são arrastadas para
fora das salas de aula, janelas são quebradas, carteiras jogadas das sacadas
dos andares e logo o cenário se transforma em uma reprodução de Sodoma e
Gomorra, com as professoras mais formosas tendo suas roupas arrancadas e
colocadas à disposição dos alunos, enquanto os professores eram surrados até
que os alunos se entediassem e os deixassem em um canto. A diretora da escola,
sem entender o que acontecia, foi em direção ao cenário, sendo agarrada pelos
adolescentes, que gritavam palavras de ordem, totalmente descoordenadas, e arrastada
por eles de volta ao seu escritório, onde também é violentada pelo grupo, que
se reveza na posse de seu corpo.
As drogas, a música depravada e o sexo, realizado com ou sem
o consentimento dos mestres e funcionários da escola, foram se apoderando do
ambiente. Os poucos que não tomam parte ou que já se saciaram permanecem
observando, fazendo comentários, divertindo-se diante desse ou daquele momento
em particular, enquanto professores, acuados num canto do pátio, permanecem
observando, perdidos entre a meditação sobre sua própria ruína e o que acontece
ao seu redor, que se mostra mais importante para alguns e menos importante ou
perceptível para outros, para quem a vida simplesmente parece ter perdido o
sentido em poucos minutos de humilhação. Do lado dos alunos, a sensação de
liberdade, evoluída ao cúmulo da libertinagem, da ciência do poder absoluto
dado a eles por um sistema legislativo que os torna inimputáveis, é manifestada
como um orgasmo insuportável, incontido, fulminante, que os levam a se revezar
entre o uso de drogas e a total aniquilação de qualquer senso de hierarquia
restante, a violação de seus professores e diretores e a total despreocupação
com o que quer que o futuro venha a lhes trazer.
A situação com reféns leva à chamada da polícia, quando,
horas mais tarde, moradores e transeuntes passam a estranhar a situação na
escola. Barulho demais para a bagunça convencional feita durante as aulas, sem
falar que o som de vidros se quebrando e os gritos ouvidos demonstravam,
visivelmente, que algo mais acontecia lá. Talvez um tumulto, assalto, as portas
trancadas indicavam uma situação com reféns. O policiamento de bairro acionou o
comando, que mandou a tropa de choque ao local, e, tão logo o líder do pelotão
iniciou as conversações através da porta trancada com um grupo de alunos,
nenhum deles se preocupou em cobrir o rosto ou em não proferir palavras de
baixo calão ao afirmar que a escola, a partir daquele momento, lhes pertencia,
bem como aqueles que a comandavam. Ao ser avisado pelo policial que haveria
invasão pela retomada da escola, o grupo de estudantes declara que vai emitir
uma mensagem mostrando o que pensa da posição da polícia ante a situação. O
oficial retorna a seu grupo, debatendo o assunto com outros, e todos já mostram
ter ciência de que se trata de uma situação com menores, que haveria mais
problemas para a própria polícia que para os sequestradores caso alguma ação
violenta fosse tomada e, embora demonstrassem controle, sabiam que qualquer
providência tomada acarretaria no fim de suas carreiras, talvez até prisão, e
preferem aguardar a mensagem dos alunos.
Não demora muito até que os adolescentes apareçam na sacada
do escritório da diretoria, no andar de cima, chamando a atenção da polícia.
Estão todos nus, inclusive a diretora, que é colocada de bruços e passa a ser
violentada pelo grupo, um de cada vez, diante dos olhares estarrecidos e dos
comentários daqueles que a tudo assistem, sem tomar providência alguma. O
horrendo espetáculo dura cerca de uma hora, em face do revezamento dos
estudantes. Sabendo das consequências e sem saber o que fazer por se tratar de
menores de idade, o policial que comanda as negociações pede para que a refém
seja poupada, enquanto, como se ignorassem os pedidos da polícia e dos que se
encontram na rua, simplesmente prosseguem com o ato, usufruindo do corpo da
pedagoga da forma que acham melhor. Tão logo o último termine, o grupo ergue o
corpo da mulher, que treme e demonstra total desorientação, e a arremessa da
sacada. Sem saber o que fazer, os policiais e as pessoas na rua, que a tudo
acompanham, se indagam, assistem, algumas filmam tudo para as redes sociais,
outras estão simplesmente fascinadas e pensam somente em como aquele ocorrido
irá garantir que tenham assunto para a vida toda ou simplesmente possam dizer
que viram aquilo acontecer, enquanto há os que se perguntam por que, tendo
apenas uma resposta do grupo: “porque nós podemos”!
E os estudantes dão meia volta, sem se preocupar em dizer
mais nada àqueles que permanecem do lado de fora, assistindo a tudo, imaginando
o que pode estar ocorrendo dentro do estabelecimento de ensino, e se
perguntando o que reserva o futuro, seja daqueles que lá se encontram, deles
mesmos e do mundo...
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