domingo, 20 de outubro de 2024

Altar Profanado - a ser publicado em "A Felicidade é o Ópio da Existência"

Brisa típica de verão, daquelas que vem logo após uma noite de chuva de intensidade média, gente de máscara pra todos os lados se acumulando numa plataforma que promete vagões de metrô lotados de gente perdida em seus próprios mundos pensando apenas na superfície do que são suas vidas e que se resume às responsabilidades imediatas, diversões talvez, todos envolvidos com o que quer que tenham em mente para iniciar, continuar ou finalizar, sejam suas atividades ou mesmo seu tempo no mundo. Cada rosto uma História recheada de estórias de lapsos morais, fraquezas, esperanças enganosas devidamente frustradas, traições, tudo isso confrontando-se com a consciência e manifestando-se através do desejo, em alguns casos da certeza, de serem todos os melhores seres humanos a seus próprios olhos ou simplesmente fingindo acreditarem que não o são. O homem é o que diz e não o que faz, palavras bonitas e cheias de inspiração sempre foram um analgésico cobiçado pela alma, devidamente prescrito em doses pequenas, com o menor número de linhas possíveis, administradas sob medida para um povo avesso à leitura do que quer que tome mais que alguns segundos de atenção ou exija um raciocínio maior.

Isabel tinha seus próprios motivos pra estar ali. Utilizando seus próprios meios, fazendo o que o patrão gosta, como de costume, conseguiu ausentar-se do trabalho naquela quinta-feira. Sem muitas explicações, disse apenas que tinha apenas um compromisso importante, e o chefe prontamente a dispensou sob a promessa de que compensaria no final de semana. O recado foi entendido, mesmo porque não haveria ninguém além dela e o superior no escritório, o que significa que o expediente deve ser mais curto e o trabalho executado será, provavelmente, mais longo. Nada com que se preocupar ou que ela não tenha feito antes. Todas essas preocupações permanecem afastadas agora, de modo que ela passa a focar nos passageiros ao redor, buscando algo que lhe chame a atenção e que justifique viajar em pé até seu destino.

O trem chega à plataforma e ela não demora a avistar algo que lhe desperta algum apetite. O homem é alto, peso proporcional à altura e parece visivelmente definido por baixo das roupas largas. O tempo fez com que ela desenvolvesse uma capacidade interessante de visualizar os traços de um homem sob as roupas, bem como, através do tipo físico, deduzir quais seriam os mais dotados. Ainda não tem trinta anos, mas sua experiência com homens pode ser considerada ampla, haja visto que não hesita em remover todas as barreiras possíveis entre seu próprio prazer e si mesma, avessa a todo tipo de pudor, moral ou vergonha, salvo o que possa ser usado como desculpa para afastar um pretendente não desejado por ela. Casada há alguns anos com um comprador de uma grande loja de autopeças, que até que não é de todo mal, chegando até mesmo a ter um desempenho sexual considerável, ela, mais uma vez, utiliza uma chance para procurar novos parceiros e satisfazer sua tara que, no final das contas, tem mais a ver com uma filosofia extremamente particular do que com a satisfação do corpo ou o vício no ato sexual. Admite ser extremamente ligada ao prazer físico e cuidar do corpo, em especial, para atrair parceiros potenciais e torturar aqueles que não se enquadrem em suas exigências, mas desafiar, degradar, pisotear todo tipo de padrão ético, religioso e moral que diga respeito ao encarceramento de sua libido é o que realmente a motiva.

Lança um olhar de desejo em direção ao homem que lhe chamou a atenção e, tão logo embarcam, estão um ao lado do outro, trocando sorrisos maliciosos, alguns que o rapaz esboça sem ter certeza absoluta do que a mulher estaria querendo. Não faria um escândalo, não o acusaria de assédio e o submeteria a constrangimentos que iriam desde as ofensas, talvez agressões, da multidão estúpida e furiosa, talvez até a prisão? Isabel é dona da situação, visto que a mulher é sempre vítima e o homem já nasce culpado do que quer que seja pelo simples fato de ter nascido homem. Seja como for, seu olhar deixa claras suas intenções e ela, discretamente, acaricia o membro do desconhecido, sentindo-o crescer em sua mão e, em seguida, vira-se de costas para ele, acariciando a peça com suas nádegas discretamente, podendo sentir logo o tamanho avantajado. Ele segura sua cintura e a puxa de encontro a si, enquanto ela joga o quadril para trás sem chamar a atenção e aperta o homem contra a porta do trem, sentindo seu cacete atingir o que parece ser o máximo da rigidez. Alguns passageiros notam o ocorrido, mantendo-se alheios a tudo e buscando disfarçar como podem. Ela sorri. Pouco tempo depois, vira-se para o rapaz, pisca e deixa o trem, sem dizer uma palavra que seja. Ele retribui o sorriso e segue viagem.

Trazendo para si os olhares de homens e mulheres pelo andar elegante, o salto alto e o vestido apertado, ela caminha para a saída da estação, rumo à loja onde o marido trabalha e deve estar entupido de serviço naquele momento. Entretanto, não é no cônjuge atarefado que ela pensa agora, tampouco no seu trabalho. Pelo menos, não diretamente. Enquanto prossegue é a última confraternização da empresa onde o esposo trabalha que lhe vem à mente, há mais ou menos um mês, pouco antes das festas de fim de ano. Música alta, bebida circulando, todos contentes, alguns dando vexame e, em meio a tantos ali presentes, Isabel e o marido se encontravam em uma roda com um grupo de amigos, sendo um deles um dos mecânicos da loja, com quem ela trocou olhares discretos, porém apimentados, e que deixavam claras suas intenções. O jovem negro, de porte privilegiado, segundo informações obtidas durante a conversa, praticava boxe e levantava peso, assemelhando-se a um peso pesado. Nenhuma palavra foi trocada entre os dois, exceto em um momento rápido, quando Isabel afastou-se momentaneamente para ir ao banheiro e, na saída, acabou trombando com o rapaz, que deu a desculpa de também estar apertado. Ela entendeu sua iniciativa e, aproveitando a situação, ambos trocaram números de telefone, passando a manter contato daquele momento em diante. As conversas começaram com a sutileza de praxe, aquela que se espera de duas pessoas que, embora já tenham deixado claro terem as mesmas intenções, ainda precisam se conhecer e realmente confirmar sua sintonia. Logo a ousadia tomou conta da cena e ambos passaram a se falar não só diariamente como, também, conversar sobre a possibilidade de um encontro, o que, a princípio, deixou o mecânico inseguro em face do convívio com o marido de Isabel. Mas não demorou para que a mulher o convencesse e que o desejo falasse mais alto. Entretanto, um pedido da mulher não só causou espanto como um temor no rapaz, causado pelo senso de precaução.

- Para com isso... aqui, na loja? Como que vai rolar aqui, seu marido vai tá trabalhando e tem o pessoal aqui da oficina. Embaçado isso aí...

- Não se preocupa, não. Eu sei que ele não desce na oficina e que o pessoal daí não fica de muito papo com quem é do escritório. Relaxa, se precisar a gente conversa com seus amigos e eu faço eles ficarem contentes pra não falarem nada. Mas não comenta com eles...

O mecânico riu, gostando da ideia da esposa do colega. Achava divertido o fato de possuir a mulher de alguém que trabalha no administrativo bem no prédio onde ambos trabalham, embora o motivo principal fosse simplesmente o interesse despertado pelo sexo que seria proporcionado por Isabel. Ela, por outro lado, além do interesse sexual, pensava ainda na depravação envolvida no ato de se entregar não apenas ao colega de trabalho do marido, mas, também, de fazê-lo exatamente no local onde o pão é colhido para a manutenção do lar. Não havia preocupação, tampouco medo ou remorso em fazê-lo, apenas ansiedade em consumar logo o ato, que, até então, havia sido limitado a locais mais discretos e seguros, sem qualquer tipo de risco que não fosse um transeunte que passasse na hora errada e filmasse algo com o celular ou, simplesmente, algo mais rápido e simples, como o escritório do chefe e o ocorrido há pouco no metrô, que ela fazia uso para, durante o transporte, realizar mais uma de suas fantasias e lembrar-se do poder de assediar a quem quisesse e contar com a proteção da lei contra o assédio que fosse praticado contra ela por quem não a interessasse.

 

A caminhada até o trabalho do marido é rápida, mas suficiente para que ela tenha pressa de chegar e colocar seu plano em prática. Isabel não odeia o marido, tem uma vida sexual mais ou menos satisfatória com ele, mas, embora haja sentimento e consideração, não pode evitar de trai-lo sempre que alguém que atice seu desejo a encoraje a fazê-lo. Não tem medo de ser ousada e deixar claras suas intenções, dar um passo à frente e sempre tratou o sexo como uma necessidade tão comum quanto beber, comer e dormir, não vendo por que tratar a satisfação do corpo como algo que deveria ser domado por dogmas religiosos, códigos de ética ou convenções humanas. A monogamia, pensa ela, é uma instituição desprezível, que visa apenas domesticar os instintos básicos de luxúria de qualquer ser humano e seu protesto contra ela se resume no adultério, que ela via não como um pecado, e, sim, como uma obrigação moral. Sem critérios de entrega, bastando que seu apetite sexual seja despertado e ela sinta vontade de ter o homem que tentar a sorte entre suas pernas. No intuito de reforçar seu desprezo pela instituição casamento, faz o papel esposa de família com o marido, com quem faz um sexo limitado, ainda que intenso, guardando práticas mais pervertidas apenas para outros homens. Um sacrifício necessário, pensa ela, não há outro jeito. O marido é trabalhador, cumpridor de suas responsabilidades, mas não há outra forma de mostrar a náusea causada pela convenção monogâmica que não casando e fazendo com que sua união com um homem fosse o protótipo da própria perversão, submetendo-o a passar seus dias crendo na santidade de seu matrimônio enquanto o corpo dela é entregue voluntariamente a outros homens.

Chega até a loja. Cumprimenta alguns funcionários discretamente, passa pela maioria sem chamar a atenção, depois desce até a oficina, onde o gigante negro, como chama o futuro amante, trabalha em um dos carros e sorri ao avistar a moça, deixando de lado as peças e se aproximando de Isabel. Os outros nada dizem, continuam a trabalhar, enquanto ele conversa com a mulher do colega de trabalho e ambos trocam aqueles sorrisos típicos de quem já sabe o que virá a seguir e tenta quebrar o gelo. Alguns dos outros mecânicos, como se já soubessem do que se trata, sorriem e fazem comentários maliciosos entre si, observando a mulher, enquanto o amigo se dirige à copa ao lado de Isabel.

- Rapaziada, vou fazer minha pausa pro café. Daquele jeito lá...

- Beleza, irmão, vai lá. – o casal passa pela porta da copa e o mecânico fecha a porta, puxando a loira escultural de encontro a si, passando a mãos em suas nádegas por cima do vestido e não demorando a levantá-lo, posicionando as mãos sob a calcinha e baixando-a enquanto beija o pescoço e as orelhas de Isabel, levando-a ao delírio. A peça íntima logo está no chão e acaba indo parar sob o sofá da pequena sala, onde o trabalhador se senta e a mulher, ajoelhada em frente a ele, puxa suas calças para baixo, revelando um cacete volumoso e pronto para ser abocanhado. Ela não hesita e o toma com as duas mãos, chupando-o gulosamente, apoiando os braços nas coxas grossas do gigante negro, passando a mão pela barriga definida do amante, lambendo o saco volumoso e subindo a língua da raiz da vara bem-dotada até a cabeça, voltando a mamar. Sabendo que não podem demorar, ele se levanta e a posiciona de costas para si, fazendo com que ela apoie os cotovelos na mesa onde os funcionários fazem o lanche. Apoiando uma das mãos em uma das nádegas de Isabel, ele bate o cacete contra a outra e a mulher, sorrindo, olha por cima do ombro e sorri, com um brilho malicioso nos olhos verdes:

- Come meu cuzinho. Soca essa rola grande e gostosa nele... – o mecânico se espanta, sorrindo maliciosamente enquanto bate o membro contra o clitóris de Isabel, o que faz com que ela lamba os lábios e peça mais uma vez para ser enrabada, o que eleva a excitação do rapaz e faz com que ele posicione a cabeça, empurrando devagar embora sinta, pela largura, que o reto da mulher do colega de trabalho é penetrado com frequência. Não há engano algum na afirmação, uma vez que ela mesma, ao sentir a penetração, se lembra que tudo que é entregue a seus amantes é negado em casa, conforme reza sua oposição às amarras impostas pela monogamia. Por isso entregava seu ânus com prazer a todo homem por quem sentisse desejo e que não fosse seu marido, de modo que o sexo anal simbolizasse a entrega irrestrita e pecaminosa a homens estranhos, proporcionando prazer a eles de forma incondicional e ela fosse tomada sem necessariamente sentir esse mesmo prazer físico, permitindo, assim, que seu corpo se tornasse propriedade e ela se submetesse da forma mais sublime, atingindo a mais alta escala de corrupção do altar onde fez seus votos matrimoniais. Esses pensamentos a excitavam tanto quanto os movimentos rápidos e fortes do mecânico, que segura seus quadris com as mãos sujas de graxa e sente as bolas batendo contra as nádegas fortes da mulher de seu colega, o que o enlouquece ainda mais.

- Soca, meu preto... come o cuzinho da sua puta, sua cachorra, sua vadia... faz o que aquele corno não consegue. – e o mecânico passa a dar tapas nas nádegas de Isabel, que geme alto, mexe os quadris, assim como o gigante negro, que cola o peito nas costas da mulher e toma um seio em cada mão, penetrando selvagemente e levando-a ao delírio. Olhando para cima, ele vê que os outros mecânicos assistem a tudo pelas frestas na parte de cima da parede e sorriem, fazendo gestos e comentários enquanto o colega continua se apossando do corpo da mulher alheia da forma que lhe convém. Sem conseguir se conter, ele se derrama dentro dela, ejaculando demoradamente dentro de Isabel, que empurra o quadril para trás de modo a garantir que todo o esperma do amante seja derramado dentro de seu reto. Em seguida ele se retira, limpando seu membro com guardanapos e ela desce o vestido, ajeitando-o, desistindo de encontrar a calcinha. Os dois se abraçam, tomam um rápido fôlego e ela se despede do amante, que aperta suas nádegas uma com cada mão, beijando-a e dando um último tapa no traseiro de Isabel, que retribui com um sorriso, indo em direção à saída. Os outros mecânicos sorriem para ela, que leva o dedo à boca, pedindo discrição sobre sua passagem por ali, e sorri, como quem deixa a entender que “essas coisas acontecem”, e sobe as escadas até a loja enquanto sente o esperma do mecânico escorrer de seu ânus. Em meio à correria no andar de cima, ela percebe o marido em frente ao balcão, conversando sobre qualquer assunto com os vendedores. Caminhando até o banheiro, ela se certifica de que o cabelo esteja arrumado e o vestido não esteja amassado em excesso antes de se aproximar para cumprimenta-lo.

- Que surpresa, diz o marido, beijando a esposa na boca e abraçando-a, sem perceber um sorriso e um levantar de sobrancelhas para os outros funcionários, que haviam notado sua presença na loja anteriormente e sua descida até a oficina. Ela então explica que estava passando por perto e que decidiu dar um alô antes de ir para casa. Algumas palavras rápidas e ela se retira, indo em direção ao metrô, que provavelmente estará mais vazio em face do fluxo contrário.

Durante o caminho de volta, ela reflete sobre o que acabou de fazer. O alívio que sente é devido à luxúria satisfeita, não do fato de que conseguiu sair da loja sem que o marido esboçasse qualquer desconfiança. Divertiu-se, a manhã valeu a pena, agora se pergunta como será a próxima vez e com quem, sabendo que pretendentes não faltarão. É mulher e tem, portanto, o poder de escolha. No meio disso tudo lembra de uma frase de um de seus filmes favoritos, que dizia que o amor estaria em declínio. Ledo engano, ele nunca esteve: apenas é necessária maturidade para se ver sua verdadeira face, ou, no mínimo, ausência de medo de se vê-la e aceitar que passou a vida sendo enganado por aqueles que tentaram passar uma imagem dele como um sentimento nobre, perfeito e desprovido de qualquer tipo de falha e conseguir encarar que se trata de um lobo vestido de cordeiro que visa apenas satisfazer a si mesmo até quando quem ama dá a vida pelo ser amado, pois, se o faz, é porque a vida sem quem se ama traria prejuízo a si e não à outra pessoa.

À noite, durante o jantar, seja pelo cansaço do trabalho ou por mero esquecimento, o que não é de se surpreender, Isabel trata de vários assuntos com o marido, mas não falam pouco sobre a visita surpresa à loja pela manhã. Nenhum sinal de desconfiança, de possível ocorrência de uma traição, como se uma confiança inabalável na mulher afastasse toda e qualquer dúvida sobre seu caráter ou de que a falta ao serviço pudesse ter sido motivada por algum desvio de conduta. Ela se pergunta se seria em face de uma autoconfiança exagerada que não haveria qualquer tipo de desconfiança das andanças da esposa quando em momento oportuno, se ele saberia de algo e apenas estivesse guardando tudo para uma referência futura, ou, quem sabe, por nutrir uma dependência emocional e física de Isabel que simplesmente não manifestava, pois não consegue imaginar que seja tão simples assim trair sem ser descoberta ou que alguém no serviço do marido não tenha feito qualquer comentário sobre a cena na oficina pela manhã. Ou talvez houvessem comentado e ele dado de ombros e, em face de confiar demais em si mesmo ou na esposa, simplesmente não tivesse dado crédito ao que ouviu.

- E o que você fez de bom hoje, já que não foi trabalhar? E seu chefe não achou ruim?

- Nada de mais, dei uma volta pelo centro, ia ver umas roupas novas e talvez algumas coisas pra casa, mas tudo muito caro. E, o chefe, bom... eu conversei com ele e deixou que eu folgasse hoje se eu repusesse no sábado e colocasse o serviço do escritório em ordem.

- Sábado? Hum, então vou aceitar o convite do pessoal pra jogar bola de manhã. Como você vai estar trabalhando, não vai ter problema. De vez em quando é bom mesmo faltar no trabalho, ainda bem que seu chefe tem esse jogo de cintura e você consegue trocar o horário de boa.

- Ah, sim, quando a gente mostra serviço sempre consegue alguns favores em troca.

A falta de desconfiança, de uma cena de ciúme, por menor que fosse,somadas à estabilidade emocional do marido, causam em Isabel uma irritação que ela, como sempre, faz um esforço para disfarçar. Não consegue ver algo de positivo nessa confiança inabalável que Nelson tem nela, como se a usasse para disfarçar que, no fundo, é um imbecil pedindo, quase implorando para ser manipulado e traído constantemente. Chega a ser uma ofensa à sua vaidade feminina, a ponto de fazê-la se perguntar se ele realmente nutriria um amor incondicional que prova demonstrando segurança nela ou em si ou se, simplesmente, não se importa. Uma amante? Nada impossível, embora ela se pergunte como faria para administrar o casamento e outra mulher, haja visto que tudo que faz, com exceção das cervejas e do futebol com os amigos, é totalmente voltado para o lar. Alguém no escritório, talvez? Ela aproveita as horas de almoço mais longas que o normal para se debruçar sobre a mesa do chefe ou se ajoelhar debaixo dela, é como consegue ocasionalmente ausentar-se do trabalho quando quer e promover encontros como o de hoje, quando atingiu o máximo da ousadia se entregando ao mecânico no local de trabalho do próprio marido. Quem sabe ele não fizesse o mesmo com alguém no trabalho, embora o excesso de serviço durante o expediente dificultasse as coisas para ele.

Ao sair para colocar o lixo fora, Isabel dá de cara com o novo zelador do prédio. Uma troca de sorrisos e um olhar que já deixa claras as intenções da mulher e do homem de aceita-las futuramente, de modo que ela pretende explorar mais esta oportunidade e, provavelmente, ir mais longe na profanação do altar onde fez seus votos e trazer suas aventuras com outros homens não apenas para dentro de casa como acrescentar alguém ainda mais próximo que o funcionário da firma onde o marido se encontra ao seu histórico. Parece um tanto clichê, é verdade, a esposa que se entrega ao zelador enquanto o marido trabalha, ou mesmo ao carteiro, padeiro, entre tantos outros, mas a ideia de fazê-lo faz com que ela se lembre de piadas e estórias que ouvia quando criança e que a excitavam terrivelmente, a ponto de fantasiar ocasiões assim durante o banho ou momentos em que a necessidade tomava conta. Um fogo incontrolável, além do seu próprio desprezo pelo casamento, mais uma vez, fazem com que ela pense em uma nova investida, que só não será posta em prática neste final de semana devido à compensação de horário no trabalho.

Afastando esses pensamentos, ela se recolhe ao apartamento. O resto da noite é tranquila e passada com o marido, em frente à TV.

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